quinta-feira, 21 de novembro de 2013

 
 


 
10 de outubro de 2012 - Nos campos de refugiados do Quênia, e em outros mais, psicólogos são parte integrante das equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF). Para o Dia Mundial da Saúde Mental, enfatizamos o papel essencial desses profissionais, ajudando as pessoas a superar seus traumas.

Siyad Abdi tinha 16 anos quando foi vítima de homens armados na Somália. Oito anos depois, as cicatrizes psicológicas ainda não estavam curadas. Desde sua chegada ao campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, em 2010, sua mãe o manteve acorrentado à cama pelo tornozelo, com receio de que ele saísse vagando sem rumo e se ferisse.

Muitos dos refugiados em Dadaab estão traumatizados por conta das experiências vividas na Somália, onde a violência e a seca os levaram a deixar suas casas. Desde 2009, MSF leva cuidados de saúde ao campo de Dagahaley, em Dadaab, onde a oferta de serviços inclui saúde mental e aconselhamento. No Quênia, como também em outros países onde MSF atua, psicólogos agora são integrantes permanentes das equipes médicas da organização.

“Em Dadaab, e na África em geral, o estresse psicológico não é expressado da mesma forma como acontece em países mais ricos”, conta o psiquiatra Pablo Melgar Gomez, que trabalhou em Dadaab de 2009 a 2010 e está agora atendendo refugiados palestinos no Líbano. “As pessoas reclamam frequentemente de dores físicas. Durante a consulta, tentamos fazer com que entendam que tais dores estão relacionadas a seu estado emocional.” Em média duas consultas são geralmente suficientes para ajudar as pessoas a encontrar formas de lidar com o estresse psicológico. Mas pessoas em condições psicológicas mais sérias, incluindo esquizofrenia e distúrbio bipolar, podem não receber o tratamento necessário. 

 “Enquanto estive em Dadaab, vi dezenas de pessoas com problemas de saúde mental sendo acorrentadas ou enclausuradas por suas famílias, que estavam completamente perdidas sem saber como lidar com elas”, diz Gomez. “Se não tivéssemos interferido, essas pessoas não teriam a menor esperança de receberem cuidados psiquiátricos e ainda estariam acorrentadas hoje.”

Cerca de 450 milhões de pessoas no mundo inteiro sofrem com distúrbios mentais, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas há uma enorme lacuna entre aqueles que precisam de cuidados voltados para a saúde mental e aqueles que os recebem.

Durante guerras ou após desastres naturais, a proporção de pessoas com depressão ou ansiedade, reações normais a eventos anormais, frequentemente dobra ou triplica. Em situações extremas, toda uma população passa por experiências de aumento de ansiedade ou tristeza. A maioria das pessoas superam tais quadros sozinhas ou com a ajuda de amigos e família. Mas, para outros, cuidados psicológicos ou psiquiátricos são necessários.

Em situações de crise, os psicólogos de MSF priorizam as necessidades mais urgentes. Após o terremoto no Haiti, em 2010, a equipe da organização ofereceu consultas para ajudar os pacientes a superar traumas imediatos, enquanto tratava pessoas com transtornos mentais severos. 

O estresse psicológico pode ser difícil de diagnosticar quando se manifesta por meio de dores físicas e uma das tarefas dos psicólogos de MSF é treinar outras pessoas da equipe médica para observar e identificar potenciais pacientes. Geralmente, são pessoas que reclamam de dores diversas, sem serem específicos, ou que voltam muitas vezes para consultas sem obter um diagnóstico correto, uma das razões pelas quais é tão importante a integração dos cuidados de saúde mental a outras atividades médicas.

Além dos campos de refugiados, desastres naturais e áreas de conflito, os psicólogos de MSF dão aconselhamento às pessoas em condições bastante variadas, incluindo vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo (RDC) e na Guatemala.

 “A assistência psicológica pode contribuir para o tratamento de pessoas com HIV/Aids e tuberculose”, diz Gomez, “em um centro de nutrição, por exemplo, uma mãe não pode cuidar adequadamente de seu filho e garantir que ele ganhe peso se estiver sofrendo de depressão.”
 
Acesse galeria de fotos e conheça histórias acompanhadas por psicólogos de MSF em Dadaab.

Em 2011, nos países onde MSF atua, nossas equipes de psicólogos conduziram cerca de 17 mil consultas individuais voltadas para saúde mental e 19.200 sessões de aconselhamento em grupo.

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