Há muitos anos, apareceu-me uma senhora que sofria de uma depressão crônica, lamentava-se de tudo e de todos, como se fosse a pessoa mais infeliz do mundo.
Apareceu com o marido e a filha. O marido era um comerciante abastado que tudo fazia para lhe agradar, ela deixou de o ajudar na loja, desculpando-se que os clientes a incomodavam. Em casa tinha uma mulher-a-dias, que até lhe fazia as refeições e punha-lhe a mesa. Como se não basta-se, o marido pagava a uma ama para sua companhia (por sugestão do médico), para a levar à rua a distrair-se.
A filha preocupava-se por ver a mãe naquele estado, e ia adiando o seu casamento, tinha medo que algo de grave lhe viesse a acontecer.
Quando lhe disse que não tinha motivos para estar nesse estado depressivo, afinal ela própria tinha confessado, que tinha um excelente marido e uma boa filha, que se preocupava com ela a todo o momento. Afinal, havia pessoas que na verdade poderiam ter motivos para andarem tristes, por terem uma vida horrível, com dívidas para pagarem, sujeitas a maus tratos, tendo problemas com filhos, com tribunais… então, ela me interrompeu:
- Professor, mas com o mal dos outros estou bem! Eu estou doente, não sou feliz, eu tenho é que me preocupar comigo. Eu não quero saber o que se passa com os outros. Eles que se desenrasquem. Só tenho é que pensar em mim!
Chegou também a confessar-me:
- Quando saiu à rua e vejo essas pessoas a rirem-se e todas felizes, fico revoltada, porque será que não entra tristeza na vida delas, só serei eu a sofrer?
Fez-me lembrar uma expressão de Albino Forjaz de Sampaio, que o grande desejo de certos egoístas inválidos, seria que todo o mundo andasse com uma cadeira de rodas.
Há muitas pessoas que sofrem depressão por egoísmo, desconhecem a terapia da solidariedade.
Milhares de pessoas praticam o voluntariado, deixam o seu conforto da casa, visitam os necessitados, ajudam os sem abrigo, sem receberem nada de material em troca. Ficam satisfeitos em troca de um obrigado ou de um simples sorriso. Porque o fazem? Porque se sentem bem em ajudar o próximo, dando sem receber nada em troca, ajudando quem precisa e tendo compaixão por quem necessita mais do que eles, isso é excelente, vence o egoísmo e satisfaz a alma.
Já viu essas pessoas sofrerem de depressão? Naturalmente que não têm tempo para pensarem nisso.
As pessoas egoístas são aquelas que têm mais problemas e que são mais infelizes. Como crianças egocêntricas, querem se sentir o centro de todas as atenções, quando alguém as ignora fazem birra para se salientarem e serem mimadas, assim acontece a essas pessoas egoístas. Claro, que nem todas as pessoas depressivas são egoístas, há vários motivos para se chegar à depressão.
Mas muitas vezes a depressão é uma forma de lamúria, em que o paciente se lamenta que só ele é que sofre, esquecendo-se que há quem esteja pior, como aquele se lastimava que não tinha sapatos, depois vê alguém que não tinha pés.
Usar a lógica que há quem sofra mais que nós, dá ânimo à nossa postura, afinal não somos o centro do mundo e ajudando os outros é um caminho para atingirmos a felicidade e obtermos a mente tranquila.
Estamos todos no mesmo barco, a diferença é que alguns remam, e preocupam-se em ajudar os outros, enquanto outros, não remam, esperam que o barco siga sozinho sem itinerário, nem rumo, não importando mesmo que ande à deriva. É natural que surja a depressão, para a vencer é necessário remar.
PROF. KIBER SITHERC
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