FORMAS DE PENSAR QUE DESTROEM A SUA FELICIDADE
Todos nós estamos geneticamente preparados para a
felicidade, mais especificamente para a felicidade hedônica. A palavra grega
hedonê significa “prazer” e dela provém o termo hedonismo. O precursor do hedonismo foi o filósofo grego Aristuppus (435-366 BCE) que defendia a boa vida
pela experiência de maximização do prazer e minimização da dor, e que a
felicidade surgiria como a totalidade dos momentos hedônicos experienciados
pela pessoa. Basicamente a felicidade hedónica está relacionada com os momentos
prazerosos associados aos nossos cinco sentidos, e com as experiências
positivas que estes nos proporcionam, como por exemplo, o calor do sol, ou o
sabor doce e a sensação refrescante de um gelado, ou o êxtase de ver a nossa
equipa de eleição vencer. Deste ponto de vista podemos considerar que
felicidade é a soma dos vários momentos prazerosos experienciados. Numa
perspectiva diferente temos a felicidade heudaimónica. Aristóteles, filósofo
grego propulsor do eudaimonismo, postula que toda atividade humana tem um fim.
Eudaimonia, enquanto estado subjetivo, envolve os sentimentos que ocorrem
quando a pessoa se move em direção à autor realização para que possa
desenvolver os seus potenciais e conferir propósito à sua vida (Waterman,
Schwartz & Conti, 2006).
Acredito que ambas
as perspectivas anteriores acerca da felicidade estão presentes na vida de cada
um de nós. Por vezes, afastamo-nos das boas sensações que o nosso corpo nos
pode proporcionar, assim como dos nossos objetivos e propósitos de vida,
emergindo o sofrimento, angustia e infelicidade. Se você percepciona que tem um
conjunto de comportamentos que vão destruindo a sua felicidade, proponho que
reflita sobre as possíveis formas de agir e pensar que podem estar contribuindo
para o seu mal-estar, e assim, mudar a vida para melhor.
VOCÊ
FICA ANGUSTIADO ACERCA DO SEU FUTURO E ESQUECE O CAMINHO JÁ PERCORRIDO
Antecipar o futuro de forma angustiante é a receita
para se sentir desanimado. Este mau hábito aumenta drasticamente as chances de
desistir dos seus sonhos, fazendo-o sofrer por antecipação. Em vez de
concentrar-se na sua perspectiva de futuro catastrófica, olhe para aquilo que
já conseguiu e aprendeu para que possa organizar-se face aquilo que pretende
melhorar ou atingir.
2.
VOCÊ TEM MEDO DE CAMINHAR PELO SEU PÉ, IMpORTANDO-SE
EM DEMASIA.
Esta é uma grande
armadilha da qual você necessita ficar atento. Ainda que possa necessitar de
algum tipo de suporte para algumas coisas ou em alguma fase da sua vida, não
confunda isso com negação das suas capacidades para atingir o que pretende. É
assim que as pessoas podem enraizar uma mentalidade de vítima,
ou ficarem dependentes de terceiros, tendo de aceitar situações que não lhes
servem, como por exemplo, permanecer num relacionamento abusivo. A
verdade é que a grande maioria das pessoas tem o poder para se propor às coisas
que pretende alcançar na vida. Mas para que se comprometa com essa ideia e
passe a agir com essa crença, primeiro precisa perceber que pode estar
privando-se da oportunidade de fazer isso acontecer. Sim, isso é exatamente o
que muitas pessoas fazem. Simplesmente não dão a elas mesmas a oportunidade de
tentar pelos seus próprios meios, levando-as a desenvolver medo de caminhar
pelo seu próprio pé.
3.
VOCÊ ACHA QUE SÓ IRÁ SER FELIZ QUANDO ATINGIR UM DETERMINADO OBJETIVO
Quando focamos a
nossa felicidade no futuro, em algo que queremos alcançar para sermos
verdadeiramente felizes, podemos entrar num caminho tortuoso e miserável. “Só
vou ser feliz quando tiver o corpo perfeito.” Neste exemplo, a pessoa está a
fazer uma afirmação absolutista ancorada a um objetivo específico, remetendo
todas as outras áreas da sua vida para segundo plano. Coloca um filtro
extremamente redutor, quer em termos temporais, quer em termos de outros
objetivos alcançados ou prazeres experienciados. Nesse meio tempo, é usual a
pessoa sentir-se miserável porque o seu corpo não cumpre os padrões
pretendidos. Se este tipo de pensamento for sendo aplicado ao longo do tempo e
generalizado a outros objetivos que a pessoa se proponha, a obsessão instala-se
e a felicidade é afetada negativamente. Cuidado com este ciclo de pensamento a
que podemos chamar de armadilha da felicidade.
Mesmo que a pessoa atinja os seus objetivos, por exemplo, fique com o corpo em forma,
ganhe mais dinheiro, rapidamente se propõe a outros objetivos e encontrará
novos motivos para continuar infeliz e a sentir-se miserável.
Ainda que seja saudável e benéfico traçar objetivos
e propor-nos a novos desafios que possam gerar bem-estar e contribuir para a
nossa felicidade, é contraproducente colocar a totalidade da nossa satisfação
de vida na obtenção de um determinado resultado.
4.
VOCÊ VÊ A FELICIDADE COMO ALGO EXTERIOR AO INVÉS DE ALGO INTERIOR
Provavelmente, em
comparação com os outros, você ache que ser feliz é
ter melhor currículo, ganhar mais dinheiro, ou ter a esposa mais linda. No
entanto, muitas das pessoas que não possuem isso também são felizes. Obviamente
que as nossas conquistas, conforto e bens materiais podem contribuir para o
nosso bem-estar e promover o nosso sentimento de felicidade, mas resumi-la a
isso é destruí-la. Talvez o hábito tenha sido enraizado devido a uma sociedade
extremamente competitiva, e o sentimento miserabilista imperar para aqueles que
julgam não ter o que supostamente acham que deveriam ter. A felicidade é
algo interno, na relação que estabelecemos conosco mesmos, com os outros, com o
mundo em geral e no equilíbrio entre o que desejamos e aquilo que obtemos. É um
sentimento, e você pode senti-lo a qualquer momento. Da próxima vez que você
diga a si mesmo que primeiro precisa de algo para ser feliz: pense novamente. A
afirmação que está fazendo é racional, razoável e saudável?
5.
VOCÊ NÃO CUIDA DE SI MESMO
Certamente você
tem consciência de um conjunto de atividades que deveria realizar para promover
e manter a sua saúde. Sabe que deve exercitar-se mais, comer alimentos baixos
em gordura, descansar, mas pode ter vindo a descuidar-se. Você sabe que deveria
ser mais autodisciplinado. Como resultado, pode sentir-se culpado. Um bom
estado de saúde é sem dúvida um enorme suporte para a felicidade.
Sabemos disso principalmente quando sentimos um abalo na nossa saúde. Faça o
que tiver ao seu alcance para não destruir a sua felicidade, cuidando de você
mesmo. Livre-se da culpa que pode sentir por não ter vindo a ter alguns
cuidados consigo e passe à ação.
6.
VOCÊ DESEMPENHA O PAPEL DE VÍTIMA
Você não precisa queixar-se taxativamente para
desempenhar o papel de vítima na sua vida. Digamos que você “não pode” fazer
isto ou aquilo, ou acha que não consegue sem se propor a isso? Provavelmente
está jogando o papel de vítima. Pode não ter plena consciência disso, ou ter
benefícios subjacentes ao desempenhar esse papel. Por exemplo, se você está
acima do peso e sente-se vítima devido a isso, pode secretamente sentir-se
orgulhoso por ir contra as revistas que constantemente dispararam a ideia de
que você deveria emagrecer. Ou, se você está sobrecarregado, pode começar a
gabar-se para os outros acerca da quantidade de coisas que faz e tem à sua
responsabilidade. Agora que ficou mais alerta para a possibilidade de poder
estar a desempenhar o papel de vítima, pergunte a si mesmo: “Quais as vantagens
que recebo de estar na minha situação atual?” Seja honesto, e liste pelo menos
sete. Você pode ficar surpreendido. Essas supostas vantagens podem estar a
prendê-lo na sua vitimização.
7.
VOCÊ FOCALIZA EM DEMASIA A SUA ATENÇÃO NOS ERROS E NO QUE É MAU
Aquilo em que focamos a nossa atenção expande-se.
Se você desenvolveu um filtro demasiado estreito para tudo o que possa estar
mal, para os erros e fracassos, para os seus e os dos outros, certamente está a
ser alvo de estímulos negativos. Não quero passar a mensagem que não devemos
prestar atenção para aquilo que não está bem na nossa vida, ou que não devemos
analisar os erros que cometemos. Ter consciência do que acontece de negativo na
nossa vida pode ser vantajoso. No entanto, não deveremos ficar presos apenas
nos cenários negativos. O que importa fazer é analisar o que precisa de ser
melhorado, reparado ou aprendido e depois orientar a atenção e recursos para a
construção de uma solução. Ficar a ruminar nos erros ou nas coisas ruins,
alimentar tudo isso e desenvolver uma crítica negativa destruidora, nada de bom
trás à pessoa que desenvolve essa forma perniciosa de olhar a vida.
8. VOCÊ ACHA QUE AS OUTRAS PESSOAS NÃO GOSTAM DE SI
Acredito que algumas pessoas possam não gostar. Não
podemos agradar a Gregos e Troianos. Mas acredito também que existem pessoas
que gostam de você. Se a ideia de que os outros não gostam de você paira na sua
mente, faça o exercício saudável de contestação. Faça uma lista das dez pessoas
que tem a certeza que gostam de você. Se conseguir completar a lista, não pode
continuar a ter essa crença irrealista. Se eventualmente a ideia permanece,
perceba o que pode ter vindo a fazer para que isso aconteça. Ainda assim, as
pessoas que não o conhecem não podem ter razões para não gostar de você.
Principalmente para as pessoas que conhece pela primeira vez, você tem a
oportunidade de estabelecer uma relação sustentável e apreciativa. Se for o seu
caso, esforce-se por isso.
9.
VOCÊ RACIONALIZA O SEU MAU COMPORTAMENTO
Todos nós sem
exceção temos momentos na nossa vida que se encaixam no que podemos chamar de
mau comportamento. Podemos ser agressivos nas nossas palavras, ou
recorrentemente sermos injustos com determinada pessoa, ou não prestar atenção
com quem necessita da nossa ajuda. Mas se de forma crônica nos comportamos
indevidamente e racionalizamos esse comportamento desajustado numa tentativa de
proteção do ego, tornamo-nos cegos à melhoria comportamental. Ter maus
comportamentos não faz necessariamente de nós más pessoas. Faz de nós uma
pessoa que se comporta de forma desadequada, podendo prejudicar a si mesmo e
aos outros. Nesta linha comportamental não existe espaço para o florescimento
pessoal, e com isso a felicidade é destruída.
10.
VOCÊ COLOCA A CULPA DE TUDO EM SI MESMO
Esta estratégia de colocarmo-nos no epicentro da
culpa de tudo o que acontece de pior na nossa vida, apelido-a de uma fuga para
o lado. A pessoa assume que tem pouco valor, pouca habilidade ou poucos
recursos e por isso é normal que seja a culpada das coisas piores que lhe
acontecem ou que estão relacionadas com ela. Se for o seu caso, não se culpe a
si mesmo por tudo e por nada, só para fugir à realidade e assim ficar no seu lado
confortável. A culpa pode já ter-se tornado em algo confortável e que tem à mão
para lidar com as situações incômodas. Tente separar-se da situação e, em
seguida, analise melhor o que pode estar a acontecer e perceba se realmente é
adequado culpabilizar-se ou se é mais benéfico perceber o que pode mudar nas
suas ações ou na situação, para que numa próxima oportunidade possa fazer
melhor.
11.
VOCÊ É UM REALISTA FOCADO NO PASSADO
Você acha que ser realista irá torná-lo mais
objetivo, mas será realmente um “realista” ou é um “realista focado no
passado”? Pondere sobre o seguinte: Tudo o que experimentamos hoje é o
resultado do que aconteceu ontem, na semana passada, no mês passado, etc. No
entanto, podemos igualmente considerar que o futuro é o resultado do que
fazemos hoje, mais os acontecimentos do passado. Se você se focar naquilo que
pretende vir a realizar ou a melhorar, isso passa a orientar as suas ações no
presente. Ou seja, caso o seu passado não tenha sido aquilo que mais desejava,
ao invés de se condicionar apenas por aquilo que já aconteceu, pode optar por
orientar a sua vida por aquilo que pretende que lhe aconteça. Pondere passar a
orientar-se muito mais focado no futuro. O futuro que quer ver materializado.
Acredito que a sua motivação irá alavancar e com isso caminhar mais esperançado
no presente.
12.
VOCÊ QUER MELHORIAS RÁPIDAS
Se você se encontra numa situação em que pretende
aprender algo que é necessário para a sua vida, ou precisa mudar algum hábito,
ou instituir uma nova rotina ou estilo de vida, e quer ver resultados imediatos
das suas ações, certamente vai deparar-se com o fracasso. Se isto tem vindo a
ser recorrente na sua vida, você está agindo com base no desespero e ansiedade.
Na verdade, é como se necessitasse muito de algo, mas não está disposto a
“pagar” a fatura com esforço da sua parte.
13.
VOCÊ NÃO PRATICA A GRATIDÃO
Pense em
algo na sua vida em que você se sente feliz por ter. Faça isso. Reconheça isso.
Sinta-se afortunado e grato por ter isso na sua vida. Por vezes simplesmente
ignoramos as coisas boas que temos na vida, damos isso como garantido. Acredito
que praticar a gratidão e transformá-la num hábito é promotor de felicidade
e equilíbrio emocional.
14.
VOCÊ ESPERA QUE OS OUTROS SEJAM A SUA SALVAÇÃO
Você acha que não
sabe o suficiente sobre X e precisa de alguém para ajudá-lo. Isso pode ser
verdade, mas às vezes é apenas uma desculpa para não colocar as suas mãos na
massa. Você, pouco a pouco vai deixando de responsabilizar-se pela sua melhoria
de vida. Raramente é devido às pessoas serem preguiçosas que isto acontece. É
principalmente porque se acham incompetentes, ou incapazes, ou eventualmente
não querem sair da sua zona de conforto e
propor-se a novas experiências.
www.escolapsicologia.com/
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