segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Você trabalha com um psicopata? 
Reconheça os sinais e evite problemas


Psicopatas são pessoas ambiciosas, egoístas, implacáveis, frias, sem medo, que não sentem empatia pelos outros e, ao mesmo tempo, charmosas, persuasivas, de grande força mental e que podem estar neste momento sentado ao seu lado no trabalho. Em geral, essas características, que costumam comumente despertar rejeição, no ambiente de trabalho se bem usadas podem tornar a pessoa um profissional bem-sucedido. “Nem todo psicopata é criminoso, além de essa capacidade de desprezar o sentimento alheio ser útil no mundo dos negócios”, afirma o coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Martins de Barros.
As competências comportamentais típicas de um psicopata, diz o médico, só o tornam perigoso se forem atreladas à violência. Contudo, se o individuo conseguir controlar suas emoções, pode conviver normalmente em um ambiente corporativo. “E o psicopata é capaz de dominar os seus instintos e usá-los a seu favor”, comenta Barros. Mas, o médico sinaliza que esses atributos são úteis somente no curto prazo. “Essas características são ambíguas, todo mundo sabe que podem ser aproveitadas em diversos contextos, mas no longo prazo são prejudiciais, pois minam a confiança e impedem a construção de relacionamentos legítimos”, diz.
O psicopata se comporta mal, se faz de vítima para o outro se sentir culpado e finge que seus erros não são culpa dele e sim do colega. Profissionais com características psicóticas se aproveitam estrategicamente do outro, fazendo as pessoas trabalhar por eles e não pensam duas vezes em roubar projetos. “Psicopatas não medem as consequências, com isso vão além e conseguem obter vantagens”, afirma Barros.
Para o professor de mestrado em psicologia da saúde da Universidade de São Paulo (UMESP) Antônio Serafim, o ambiente de negócios fomenta a competitividade, o que faz com que as pessoas acabem com atitude psicótica. “O ambiente de trabalho aflora o que há de mais forte nas pessoas. Se é insegura, mostrará sua insegurança, se possui tendência para psicopatia, características como frieza e falta de empatia se sobressairão”, destaca o psiquiatra.
Conviver com um colaborador psicopata não é difícil, basta não interferir no caminho traçado por ele. “Se você não atrapalhar os projetos dele, não há problema”, afirma Serafim. Neste sentido, a coletividade é um desafio para o psicopata. Atualmente, as empresas prezam cada vez mais o trabalho coletivo, mas o psicopata só funcionará em uma tarefa em equipe se tiver destaque. “Se alguém se sobressair e ele não concordar, com certeza dará o troco”, diz o psiquiatra.

Como identificar o psicopata
A presidente do International Stress Management Association (ISMA-BR), Ana Maria Rossi, explica que em uma entrevista de emprego é muito complicado identificar um psicopata corporativo. “Ele é muito preparado e sedutor”, afirma. Para ela, é importante que o candidato, nas entrevistas de emprego, seja avaliado por um psicólogo, pois só este profissional conseguirá perceber ações e características típicas de um psicopata. “Se isso não for possível, os colegas de trabalho e os profissionais de recursos humanos devem ficar atentos, principalmente em situações tensas, pois é nessa hora que o psicopata deixa transparecer a sua real personalidade”, afirma.
Mas não há motivo para desconfiar dos colegas. Encontrar psicopatas em empresas, por sorte, não é algo fácil. “É bastante prejudicial essa moda de ver psicopata em todos os lugares, estima-se apenas que 1% da população tenha esse desvio”, esclarece o médico da USP Daniel Martins de Barros.

Profissões preferidas pelos psicopatas
Uma pesquisa realizada no final do ano passado pelo psicólogo Kevin Dutton, da Universidade de Oxford, apontou que ser presidente de uma empresa é o cargo mais almejado pelos psicopatas. A lista segue em ordem pelas seguintes profissões: advogados, profissional de rádio e televisão, vendedor, cirurgião, jornalista, policial, pastores e padres, chefe de cozinha e funcionário público. Segundo o pesquisador, a preferência por essas profissões acontece porque elas exigem tomadas de decisões frias e objetivas, características típicas de psicopatas.

Entrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu para Revista Isto é

1.     Como você descreveria um "psicopata corporativo"?

Psicóloga:  Em boa parte das vezes ele é charmoso, tem excelente postura, fala com confiança, conquista quem procura um profissional motivado e inteligente (ou seja, todo mundo). O psicopata não tem todo o conhecimento e capacidade técnica que faz as pessoas pensarem que tem, mas é muito hábil em “responder sem responder” – habilidade encontrada nos políticos, não que todo politico seja um psicopata pois ele treina para fazer algo que seria muito natural no psicopata – ou seja, quando lhe fazem perguntas ou lhe dão tarefas que exigem a habilidade necessária ele simplesmente “escorrega” passando, de forma inteligente, a tarefa para outras pessoas ou faz um serviço medíocre mas ainda tem argumentos muito bem articulados para tentar convencer de que sua ação foi a melhor. Tudo isso para atingir seus objetivos de poder e dinheiro.
2.     O que ele pode fazer de pior a um colega ou até mesmo para uma empresa?

Psicóloga:  Pode mentir, enganar, dar rasteiras, jogar muito sujo mesmo. Pode sorrir e fazer as pessoas pensarem que são suas amigas, convida para frequentar sua casa mas não se inibe em fazer algo que prejudique a outra pessoa, como roubas clientes, falar mal sem fundamento para a chefia deste colega, e até mesmo entrar na empresa para roubar toda fonte de informação e clientes e abrir uma concorrência.

3.     E quais as consequências mais comuns para suas vítimas?

Psicóloga:  Raiva, prejuízos financeiros e morais. Ele pode desmoralizar seus colegas de trabalho e muitas vezes não será identificado como um psicopata,  isso dificulta a recuperação da imagem das pessoas que ele denegriu.

4.     Por que as empresas são campos tão férteis para esse tipo de empregado?

Psicóloga:  Porque, muitas vezes, o psicopata procura o poder acima de tudo. Ele tenta provar que está acima da média. Claro que no fundo é uma pessoa muito insegura e infeliz, mas não sabe lidar com essas dificuldades. Dificilmente procura tratamento psicológico e quando frequenta uma terapia reclama de insônia ou algo que não o desmascare de imediato. Mas todo psicólogo desconfia deste perfil quando seu paciente passa a usar as sessões de psicoterapia para se vangloriar de feitos e ditos, coloca a culpa em todos ao seu redor quanto as coisas que dão errado em sua vida.

5.     O que uma pessoa pode fazer para evitá-lo ou evitar ter atrito com ele?

Psicóloga: O ideal seria compartilhar suas impressões com colegas e superiores, se você perceber alguma coisa e guardar ele poderá virar contra você. Não deixe que seu charme o engane, pois ele poderá tentar usar quem estiver por perto, como por exemplo, passar o serviço dele para que você execute e ainda fará você pensar que “tudo bem” – afinal todo tem tendência de levar numa boa às mazelas daqueles a quem simpatizamos.

6.     E as empresas, como podem se precaver?

Psicóloga:  Os departamentos de recrutamento e seleção devem controlar a tentação de considerar que encontraram o profissional perfeito. Isso não existe, caso apareça alguém muito exuberante, com todos os conhecimentos que a  empresa precisa, muito falante e articulado – preste um pouco mais de atenção nas dinâmicas de grupo e perceba se ele foi desleal com os colegas para brilhar mais que todos. Preste atenção a quem reclama muito dos “invejosos”, que acha que só tem qualidades e que todos os outros “inferiores” merecem ser passados para trás.






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